Policiais trabalham em conjunto para obter
detalhes sobre os 'curadores', pessoas que têm ameaçado as vítimas.
A Polícia Civil investiga sete casos de
pessoas em Pernambuco que entraram no ‘jogo
da Baleia Azul’, que incita ao suicídio. Além da ocorrência registrada em Paulista, há outros dois em
investigação no Recife, um em Vicência e outro em Goiana, municípios da Zona da
Mata Norte de Pernambuco. Há, ainda, dois casos em Moreno, no Grande Recife,
investigados de forma isolada pela Polícia Federal. Para tentar minimizar as
consequências do jogo aos envolvidos e encontrar os ‘curadores’ que fazem as
ameaças, haverá uma parceria entre as duas polícias.
Anunciado nesta
quinta-feira (20) pelo delegado da Polícia Civil Darlson Macedo, gestor do
Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), o trabalho em
conjunto com a PF tem o objetivo de encontrar os responsáveis por coagir os
participantes do jogo. “Logo de cara, é possível identificar os crimes de
ameaça, lesão corporal e induzimento ao suicídio”, explica, já que as vítimas
são desafiadas a cumprir tarefas que envolvem mutilação corporal.
De acordo com o
gestor do DPCA, o caso recente de uma adolescente no município de Paulista já
possibilitou a identificação de alguns dos números de telefone utilizados pelos
criminosos para fazer as ameaças. “Quando a mãe da vítima nos procurou,
determinamos a saída dela do grupo. Assim que ela deixou de fazer parte da
rede, ela começou a receber ameaças via WhatsApp. Foi aí que identificamos os
números e já estamos tomando as providências”, explica, referindo-se a
telefones com códigos da Bahia, de Minas Gerais e do interior do Rio de
Janeiro.
O trabalho de
investigação também é complementado pelos depoimentos dos jovens que são
vítimas das ameaças. “Normalmente os jovens, com medo, negam que estão
participando do jogo, mas ainda assim estamos conseguindo extrair informações”,
afirma o delegado.
Ainda segundo
Macedo, o grau de dificuldade dos desafios aumenta a cada fase e, na última, os
participantes são encorajados a tirarem a própria vida. “O adolescente que
participa acredita que aquela ameaça é real, porque eles [os ‘curadores’] têm
várias informações daquela pessoa. Muitas delas fornecidas pela própria vítima,
o que é mais grave”, comenta o delegado, ressaltando a importância da
observação dos pais ou responsáveis para evitar esse tipo de situação.
“É muito
importante que os pais estejam junto dos filhos, que acompanhem as rotinas e
que chamem a polícia caso detectem algo diferente. É um caminho sem volta”,
alerta.Recomendações
As recomendações para as famílias são: monitorar o uso
da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos
estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os adolescentes a respeito
das consequências de práticas que nada têm de brincadeira. Atenção redobrada
com os jovens que apresentem tendência a depressão, pois eles costumam ser
especialmente atraídos por jogos como o da Baleia Azul.
Também as
escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez
mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e
o uso consciente das mídias e tecnologias.
O G1 ouviu
especialistas que
dão dicas de como lidar com o tema:
1. Fique atento à mudança de comportamento
Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que
a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar,
segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no
Instituto Singularidades.
“Isolamento,
mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no
quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que
sofre algo que não consegue falar”, diz.
2. Compartilhe projetos de vida
Para entender se a criança ou adolescente está com
problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth
reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da
repercussão do “Jogo da Baleia”.
“Os pais devem
conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma
a Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a
falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os
filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por
exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por
isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas
em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar
de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas
angústias e for escutado, tem um fator de proteção”, afirma Elizabeth.
Angela Bley,
psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe,
diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é
mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não
é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele
fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família.”
Angela reforça
que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o
conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode
fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”
4. Adolescentes devem buscar aliados
O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia
para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo
as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o
jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, diz Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas pela
vida
Assim como a família, as escolas podem ajudar a
identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai
responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de
vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de
perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.
Alguns
colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas
para aumentar a conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No
Colégio Fecap, que fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou
projeto escolar: a turma de alunos do ensino médio técnico de programação de
jogos digitais começou a criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul. “O
jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e
debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da vida e
celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.
Durante o
curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de programação para criar
jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a
formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si.
Segundo Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja
disponível on-line para o público em geral.
Ele afirma que
o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais
fortemente nossos alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a
favor da vida.”
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